Atendimento Domiciliar na Favela do Sapé, da UAD BUTANTÃ

"Estou preso à vida e olho os meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."

DRUMMOND

 

Final de primavera, calor escaldante de uma tarde de sexta-feira dentro de uma kombi, que nos leva à Favela do Sapé, para acompanharmos um Atendimento Domiciliar da UAD BUTANTÃ, com o Dr. Francisco e a Enf. Vera.

Uma ruela estreita, que mal cabe uma cadeira de rodas, nos leva a um barraco pequeno, com uma cama, armário, cozinha ao lado de um pequeno banheiro. Barraco coberto com um teto baixo de telha de amianto sem forro, transformando o que era um calor escaldante num forno de lento cozimento.

Dentro do barraco, uma senhora de 63 anos, prisioneira de uma cadeira de rodas que não passa pela ruela, sequelada de uma doença reumática que deformou suas mãos e enfraqueceu as suas pernas. Um garoto de 9 anos e um pequeno cachorro completavam a vida daquele pequeno espaço.

O que vi, foi a felicidade da senhora pela nossa visita. Nada a reclamar, apenas a agradecer por estarmos lá, cuidando de sua saúde e dando um pouco de solidariedade e afeto a uma senhora que vive a realidade de uma vida com tantas privações pela doença e pobreza.

Ela não perdeu a esperança e a vontade de viver, e este sentimento, esta força vital também recebíamos nós. E invertemos os papéis, ao percebermos que era o doente que nos ensinava sobre a vida, aos cuidadores da doença.

Eu não vi a planilha, não vi o check-list, não vi o prontuário. Não vi as regras e as técnicas, que também são necessárias, num Atendimento Domiciliar.

Mas o que eu gostaria de registrar não é um "relatório técnico" e sim um relato humanizado do que é este atendimento: a possibilidade de irmos de mãos dadas neste presente grande que é a vida.

Parabéns à toda equipe da UAD BUTANTÃ!

 

 

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Comentário de selma goulart de almeida em 21 dezembro 2010 às 19:01

 Emocionante depoimento...Parabens Evaldo e Equipe UAD Butantã...Abçs a todos.

Comentário de Regina Helena Pinheiro Sanches em 28 dezembro 2010 às 11:59
Muito emocionante seu relato Evaldo. Essa sensação que se tem ao interagir com o paciente, ou melhor, com a pessoa, não tem preço. Quando percebemos o bem que fazemos somente, como diz o Dr. Francisco, enxergando uma pessoa que antes não era percebida como tal, isso nos traz um retorno pessoal muito maior do que qualquer retorno profissional possível. Os instrumentos de trabalho são muito importantes mas os maiores instrumentos dos quais podemos e devemos dispor são as nossas capacidades humanas. E elas são aprimoradas com esses contatos, com a valorização daquela pessoa que nos procurou com uma queixa, que, por menor que fosse, necessitava ser ouvida, respeitada, acolhida. Alguns pacientes não sabem o bem que nos fazem com seu agradecimento, com seu sorriso, com o "Deus o(a) abençoe doutor(a)!" que nos dizem depois de uma consulta. Esses momentos ficam anotados na planilha de Deus e na nossa planilha pessoal, como forma de auto-realização.

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