Algumas hipóteses desesperadas e uma utopia concreta: o SUS Brasil - Gastão Wagner de Sousa Campos

Clarice Lispector inventou a expressão “ex-possível”, com sentido diferente de “impossível” (Moser, 2009). “Ex-possível” indicaria um fenômeno plausível no passado, mas que o descuido humano sistemático haveria esvaziado de suas
possibilidades de vir a ser.
A primeira hipótese triste desse ensaio é que o Sistema Único de Saúde (SUS) transformou-se, com o tempo, em um “ex-possível”. De tanto maltrato aos trabalhadores de saúde, de tanto subfinanciamento, de tanto sobrepor política de
interesses às necessidades de saúde, de tanto descuido com o direito à saúde, grande parte dos brasileiros desacreditou do suposto devir – sempre a acontecer no futuro – de uma política pública abrangente e generosa. Passaram a apostar em cada um salvar-se no emaranhado incompreensível de ofertas públicas, semipúblicas e quase privadas do imenso mercado de assistência à saúde.

A primeira hipótese, portanto, supõe que o SUS, apesar do conquistado ao longo de 24 anos, vem sendo desidratado em virtude de suas próprias contradições e insuficiências. Estudos avaliativos têm evidenciado que nossa política de saúde teve impacto positivo sobre a mortalidade infantil; protegeu o País da epidemia de AIDS, além de cuidar dos portadores e doentes; e ampliou o acesso a medicamentos e a atendimentos de urgência (Gragnolati, M.; Lindelow, M.; Couttolenc, B., 2013).

Apesar destes avanços, a cronicidade do subfinanciamento, da inadequada política de pessoal e dos descalabros de gestão e de planejamento têm comprometido a consolidação e mesmo a
sustentabilidade do sistema público de saúde.


Acredito, e há estudos empíricos apoiando essa crença, que a noção de direito à saúde ganhou a consciência nacional. As pessoas se imaginam com direito a aceder à assistência médica – quem sabe, também à psicológica, à farmacêutica, em reabilitação e, até mesmo, em Saúde Pública? Vacinas, coleta de lixo, saneamento, água, quase tudo isto foi incorporado no imaginário da maioria dos brasileiros como necessidade básica.

A mesma unanimidade, contudo, não se verifica quando se trata de identificar os meios
indispensáveis para alcançar esse abstrato direito à saúde. E é exatamente nesse ponto,
segundo minha intuição, que a sustentabilidade e a viabilidade do SUS derrapam."....continua no artigo em pdf CEBES SUS Brasil 2013.pdf

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