Mídias Sociais em Saúde e a Construção do Bem Comum

Maria Cristina Horta Vilar; Evaldo Shinji Kuniyoshi

 

Introdução.  Redefinir o serviço público como espaço de produção do bem comum responde pelo menos a duas demandas. O serviço público não é um mero distribuidor de bens e serviços, pois se o fosse a lógica da administração privada seria suficiente para a condução da esfera pública. O poder público também não pode mais ser definido simplesmente como o que financia e delibera sobre as questões coletivas, pois financiamentos públicos e privados coexistem e vários atores sociais se impõem como interlocutores do setor público. Da mesma forma a saúde, conceituada como “estado completo de bem-estar bio-psico-social” e não apenas ausência de doença, transcende seus aspectos materiais mensuráveis do modelo biológico da assistência.   O financiamento e os interlocutores do Sistema Único de Saúde (SUS) são hoje múltiplos e fragmentados. O conceito e a prática de “bem comum” e “bem-estar” é uma construção coletiva e que abrange largamente o campo simbólico. Construção coletiva requer interação entre indivíduos e seus arranjos coletivos. As mídias sociais, já relevantes como incremento da vida social e profissional, não podem ser ignoradas como ferramentas de construção de conceitos e práticas que se ajustem às necessidades peculiares da nossa sociedade.  

 

Objetivo. Descrever aspectos gerais de uma mídia social de saúde inserida na esfera municipal.  

 

Métodos. Descrição do site promoversaúde.ning.com, mediado, em atividade desde 2010 e que inclui servidores da saúde do nível municipal.  

 

Resultados. O site promoversaúde.ning.com está em atividade desde 15 julho 2010 e conta com 485 membros de várias categorias de profissionais atuantes na saúde pública, com predomínio dos servidores da prefeitura municipal de São Paulo. O site é mediado, construído na plataforma NING e oferece várias modalidades de interação. Até o início de julho corrente registrou-se 281 fotos, 16 vídeos, 106 tópicos de discussão, relato de 68 eventos e 261 postagens de blogs. Os participantes formam laços mais fortes com colegas que compartilham o local de trabalho (como unidade básica de saúde), ou um projeto presencial (curso de capacitação para técnicos de farmácia). Os servidores de diferentes unidades que compartilham um projeto desenvolvido dentro de seu local de trabalho formam elos menos fortes (saúde do homem). Participantes isolados formam elos mais fracos com os demais. O mediador do site ocupa posição central na rede de comunicação. Os fatores que dificultam a interação virtual incluem não familiaridade com a plataforma, dificuldades para se conectar  no local do trabalho, falta de hábito em usar mídia social para fins de serviço. Dentre os aspectos positivos destacam-se a visibilidade e transparência das ações, equidade das relações entre profissionais de diferentes categorias e escolaridade.  

 

Discussão.  A construção coletiva de conceitos se insere em um novo paradigma de gestão, a gestão colaborativa. Esse desafio inclui apoio do gestor  e disposição do servidor para incorporar  novos hábitos de comunicação no setor da saúde. Compartilhar  ações, demandas, anseios, dificuldades e soluções é essencial para gerar produtos como a promoção da saúde e a construção do bem comum que não fazem parte de uma linha de produção e distribuição material padronizada. A rede de comunicação se mantém viva pela ação de todos os participantes e não apenas dos laços fortes. Hoje reconhece-se a importância de laços fracos para amplitude do sistema e agregação de novas competências.

 

Referências. 1- Denhardt RB. Teorias da administração pública. São Paulo: Cengage Learning; 2012. 2-  Feuerwerker L. Modelos tecnoassistenciais, gestão e organização do trabalho em saúde: nada é indiferente no processo de luta para a consolidação do SUS. Interface - Comunic, Saúde, Educ. 2005; 9 (18): 489-506. 3- Seong-Jae M. Online vs. Face-to-Face Deliberation: Effects on Civic Engagement. Journal of Computer-Mediated Communication.  2007; 12: 1369–1387.  4-  Sørensen E,  Torfing J. Enhancing Collaborative Innovation in the Public Sector. Administration & Society. 2011; 43(8) 842–868. 5- Wellman B. Little Boxes, Glocalization, and Networked Individualism. Disponível em:http://www.chass.utoronto.ca/~wellman/publications/littleboxes/litt.... Acesso em 16/01/2013.

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