Gostaria de compartilhar com todos vocês que no último dia 23 de abril, fizemos a remoção do nosso querido POETA. Até 2 dias atrás, o senhor Raimundo dormia na canteiro central da Av. Pedroso de Moraes. E após, 33 ANOS, morando na rua, hoje, neste exato momento, está dormindo em uma cama.

Foi um trabalho intenso, mas extremamente articulado. Desde novembro de 2011, estamos mantendo contato com sua família que mora em Goiânia. Esse ano, tivemos a oportunidade de conhecer seu irmão, Francisco, que nos contou uma história com muitos obstáculos enfrentados, mas uma história tão vívida e vivida por seu Raimundo.

Agora, ele está tendo o direito de um cuidado mais próximo e nós, profissionais, o dever de cuidá-lo. O amor tem sido recebido não apenas pelos profissionais, mas pelos usuários do CAPS.

Seu Raimundo, continua sendo uma figura única e assim como todos nós, insubstituível. Ainda recusa calças e chinelos que usuários querem doar e que, talvez, um dia, isso possa se modificar. Entretanto o que não modificará, independente do lugar que ele ocupe, é a sabedoria, o carinho e o pedacinho de seu manuscrito que ele doa a todos que passam por ele.

Viva (no sentido literal da palavra) seu Raimundo!!!

Abraços,

Rhavana

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Comentário de Evaldo em 26 abril 2012 às 10:52

Oi, Rhavana. Parabéns a todos vcs!

Fiquei muito feliz com esta notícia, ao ler hoje no tablet pela manhã, que ele vai ficar num CAPS. Espero que ele se adapte ao novo ambiente e que consiga ter vínculos positivos com as novas pessoas de seu convívio. Continuarei torcendo por ele, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, e ficarei bem agora, ao passar pela avenida Pedroso de Moraes, vendo que não está mais naquele local porque vcs o ajudaram a entender que ali não era o melhor pra ele.

Este trabalho da ESF População de Rua é realmente maravilhoso, vai contra toda uma lógica de privilegiar e dar respostas apenas a quem reclama, a quem demanda ou denuncia. Esta história de seu Raimundo é um exemplo de como a saúde pública deveria ser. Sem ele pedir, mas com muito respeito à sua pessoa, ele recebeu esta ajuda de vocês, porque necessitava.

Na semana passada, por um documentário da TV Record, eu conheci o trabalho do Dr Marcelo, já falecido, e que trabalhou na ESF População de Rua da Cracolândia. Fiquei impressionado com o depoimento daquelas pessoas da região, e o carinho que tinham pelo Dr. Marcelo. Lamentei muito não tê-lo conhecido quando ele atuava naquela região. O sistema parece que não quer olhar para aquilo que não demanda, não reclama ou não aparece numa manchete de jornal. E é pra onde mais deveria olhar, se queremos mudar a forma como o sistema deveria funcionar, prestigiando estas ações.

Vou deixar o link da outra postagem, para quem quiser conhecer quem é seu Raimundo: http://promoversaude.ning.com/profiles/blogs/6235349:BlogPost:27001

Viva seu Raimundo e todos nós, a vida bem vivida é o que importa!

Comentário de Daniela Oliveira de Melo em 27 abril 2012 às 20:13

Que trabalho lindo, parabéns. Quando temos notícias como essa nos orgulhamos de trabalhar como profissionais de saúde, sobretudo em um sistema público de saúde. Estaremos torcendo por ele e para que haja um olhar mais atento para esses resultados pelos gestores e pela população. Esse tipo de experiência precisa ser divulgado, chega de falar só de filas e problemas, como se o SUS se resumisse a isso! Parabéns, de coração! É um trabalho de resultado lento, progressivo, difícil de ser realizado... admiro muito.

Comentário de Evaldo em 26 maio 2012 às 12:44
Comentário de Evaldo em 3 junho 2012 às 19:15

POESIA NA RUA

Cadê "seu Raimundo"?

Sumiço de sem-teto poeta comove Alto de Pinheiros; morador de rua está em tratamento psicológico

O caseiro Roberto Oliveira, 36, cumpria o mesmo ritual todos os dias: enchia uma garrafa d'água e levava a um morador de rua fixado a alguns metros de seu trabalho, no canteiro central da avenida Pedroso de Morais, no Alto de Pinheiros. Às vezes ele conversava com o senhor curvado que se vestia com sacos plásticos e escrevia poemas em pedaços de papel sulfite. 

A tarde do último 23 de abril foi diferente. A cobertura de lona com a qual costumava se proteger da chuva não estava na praça. "Foi um segurança da rua que me falou que haviam levado o 'seu Raimundo' embora", conta Oliveira, que trabalha em duas casas no bairro de classe média alta da zona oeste.

Raimundo Arruda Sobrinho, 73 anos estimados, tinha sido levado para atendimento médico e psicológico no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) do Itaim Bibi, depois de ter morado no canteiro por 18 anos. Quem intermediou o tratamento foi a publicitária Shalla Monteiro, 36.

"Fiquei extasiada com ele escrevendo no meio da avenida, em silêncio meditativo", diz a moradora do Alto de Pinheiros, que conheceu Raimundo em 2011 e criou, em agosto do mesmo ano, um grupo no Facebook sobre ele. 

Foi por meio da rede social que o irmão do sem-teto, Francisco Arruda, 56, localizou-o."Fui buscá-lo em São Paulo, mas ele disse que as vozes não o deixavam sair de lá", conta o engenheiro, que mora em Goiânia. 

Raimundo nasceu em Goiatins (Tocantins), mas veio para São Paulo em 1956 para terminar os estudos. "A última carta que ele mandou para nós foi em 1962", afirma Francisco. Em meados dos anos 1980, Raimundo foi encontrado graças a um programa de televisão e passou 20 dias com a família, em Goiás. "Depois sumiu de novo. Ficamos sabendo que vendia livros no viaduto do Chá, mas que as faculdades mentais dele tinham piorado e ele estava na rua."

Para levá-lo ao centro de saúde, já que ele recusava tratamento, a família pediu a intervenção do Ministério Público. "Na primeira vez que fomos lá, disseram que não poderiam fazer nada por ele ser um patrimônio histórico da cidade", diz Josangela Roberta, mulher de Francisco. 

Naquela segunda-feira de abril, após intervenção da Promotoria, funcionários do Caps foram à praça com uma ambulância. Segundo relatos, Raimundo não ofereceu resistência. O Caps não liberou a visita da reportagem. "Ele ainda se veste com o plástico e não cortou o cabelo, mas já está se alimentando bem", relata Josangela. 

O irmão quer levá-lo para Goiânia, mas ainda não sabe a data da liberação. "Temos um quartinho e médicos para fazer o acompanhamento, tudo para ele ter um final de vida decente." 

Para o psicanalista Flávio Veríssimo, o retorno à vida familiar deve ser difícil. "Há muito tempo ele não sabe o que é viver em família. Se não tiver suporte de médicos, corre o risco voltar para a rua." 

"O Condicionado"
O poeta assinava com o pseudônimo "O Condicionado". "Ele se dizia condicionado pela escravidão social e pela psiquiatria", diz Shalla. Segundo ela, Raimundo contou, sem muitos detalhes, já ter sido internado em um hospital psiquiátrico. 

"Dificilmente aceitava comida com medo de ser envenenado", diz o caseiro José Paulo Barbosa, 49. "Ele era tão conhecido que a praça poderia levar seu nome", sugere a copeira Maria Regina do Nascimento. 

Para Evaldo Mocarzel, diretor do documentário "À Margem da Imagem" (2003), ele foi o personagem mais inusitado do filme, que retrata mendigos. "Era o único caso que não tinha ido para a rua por alcoolismo, desemprego ou problema familiar." 

No longa, o sem-teto se descreve como "uma peça no tabuleiro internacional da política" e se diz revoltado por não encontrar um interlocutor. "Parece que estou num pedestal intelectual acima das nuvens." 

Poeta foi encontrado via Facebook

Irmão achou sem-teto em grupo criado por admiradora, que reúne quase 18 mil fãs 

No dia seguinte à internação de Raimundo Arruda Sobrinho, em abril, um aviso em uma árvore da "ilha da Pedroso" anunciava seu paradeiro. Logo abaixo, uma placa convidava à visita da página no Facebook, criada em 2011 por Shalla Monteiro.

Foi por meio da rede social que seus parentes em Goiás o localizaram, em setembro do ano passado, e decidiram interná-lo. Antes de ser encaminhado, a página tinha 300 fãs, segundo Shalla. Hoje são quase 18 mil. 

(Revista da Folha - 3/6/2012)

Comentário de Evaldo em 30 julho 2012 às 12:53

Olá a todos.

Vi no Facebook, no fim-de-semana, que seu Raimundo voltou pra Goiás, para sua família.

Parabéns a todos da ESF Pop Rua e CAPS!

Comentário de Rhavana Pilz Canônico em 30 julho 2012 às 21:49

Caros colegas e parceiros de luta,

 

Ainda não havia escrito sobre o retorno do seu Raimundo à Goiás, pois era algo que ainda estávamos processando e eu, particularmente, não sabia o que sentia.

Existiram críticas, existiu apoio, existiu tristeza, existiu alegria, existiram sentimentos e reações diversas...mas...lá se foi Raimundo para um lugar "desconhecido" porém com "esperança de ser melhor"...essas foram as quase últimas palavras que ouvi de seu Raimundo dias antes de ele ir embora. Mas para o seres humanos viverem é preciso movimento na vida e foi isso que aconteceu com a vida de Raimundo, o "poeta". Suas mini-páginas pareciam sem movimento, mas provinham de uma mente com um turbilhão de pensamentos...imagine agora?! Com tantos estímulos externos, talvez a mente de seu Rimundo aquiete e assim novos pensamentos surjam.

Parabéns a todos que acreditamos no movimento da vida!!!

 

 

 

Comentário de Evaldo em 31 julho 2012 às 8:08

Oi Rhavana

Entendo como deve ser difícil processar tudo o que aconteceu com seu Raimundo nesses últimos meses. A gente quer o melhor pra vida dele e só depois é que descobrimos, depois de todo o movimento, se foi bom pra ele. Mas a vida é feita destes movimentos, como vc diz, e năo podemos nos furtar disso. Se ele tem a esperança de ser melhor, entăo vamos ter juntos! Acho admirável este trabalho de vcs e o respeito que tem por este povo que vive na rua, cada um com uma história sofrida, como seu Raimundo em seu vasto mundo.

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