Grupos de Oficina de Memória – Uma experiência da URSI-SÉ

 Dra.Silvia Affini Borsoi Tamai

Terapeuta Ocupacional

Dra. Maria Fernanda Mendes

Médica neurologista

 

INTRODUÇÂO

Com o aumento da população idosa no município de São Paulo e da prevalência dos diversos tipos de demência, observamos um aumento no atendimento de pacientes com queixa de distúrbios da memória, porém, em um grande número de indivíduos ela está inserida no contexto do envelhecimento normal. Esta percepção por parte dos idosos, aliada ao conhecimento e ao medo das doenças relacionadas à perda de memória, como a Doença de Alzheimer, gera medo e ansiedade nestes indivíduos, com agravamento dos sintomas e piora da qualidade de vida.

Para o correto atendimento desta população, faz-se necessária a avaliação global do paciente, através da equipe multidisciplinar. A equipe médica recebe estes pacientes e realiza o diagnóstico das doenças de base que levam ao aparecimento deste sintoma, iniciando o tratamento quando necessário. Há, porém, um grupo de pacientes que persistem com o sintoma, e não apresentam um quadro clínico inserido no contexto médico. Estes permanecem buscando resposta às suas demandas, sem encontrá-la na maioria das vezes. A avaliação e discussão com a equipe neste momento são fundamentais para uma melhor abordagem destes idosos, que podem apresentar benefício com intervenções pontuais e não medicamentosas. É neste contexto que se encontra inserido o “GRUPO OFICINA DE MEMÓRIA”, desenvolvido na Unidade de Referência da Saúde do Idoso da Região Sé - URSI-SÉ.

 

OBJETIVO

O objetivo da Oficina de Memória é o de instrumentalizar o idoso em relação ao funcionamento da memória, as alterações relacionadas ao processo de envelhecimento, na identificação das queixas de memória e fatores associados a essas queixas e a aplicação de técnicas e utilização de auxiliares de memória que favoreçam mudança de hábitos e comportamentos que melhorem o desempenho cognitivo no cotidiano. O treinamento é baseado em exercícios de memória, de atenção, de concentração e de prática repetitiva

 

 

 

MÉTODOS

O trabalho é realizado em grupo, composto no máximo por 12 idosos. São realizadas 10 sessões, uma vez por semana,com 1h e 30min de duração.

Os pacientes encaminhados ao grupo são avaliados individualmente, antes do início da oficina, pelo médico neurologista e pela terapeuta ocupacional, aplicando-se o MEEM (Mini Exame do Estado Mental), testes específicos de atenção e praxia e o questionário de percepção de memória.

Aqueles com diagnóstico de demência de qualquer natureza não são excluídos no grupo.

Os assuntos abordados são:

  • funcionamento da memória
  • melhor uso da memória
  • concentração
  • facilitação da lembrança.

Esses assuntos são trabalhados através de exercícios de memória, atenção e concentração. Destacam-se aspectos do cotidiano, o desempenho de cada indivíduo durante a oficina e como seus benefícios estão se refletindo no dia a dia do participante.

A oficina é subdividida da seguinte maneira:

1a. sessão – Como a memória trabalha: Vários exercícios são realizados, mostrando os diferentes tipos de memória, permitindo aos participantes testarem sua capacidade de julgar adequadamente seus próprios desempenhos nos diferentes tipos de memória.

 

2a. sessão – Fazendo o melhor uso de minha memória: Focaliza-se a relação entre humor e memória, percepção e memória. Discutem-se questões como ansiedade, depressão, bons e maus dias. Propõe-se relaxamento e apresentam-se outras técnicas para ajudar a pessoa a lidar com tarefas e dificuldades nessa área.

 

3a. sessão – Facilitando a lembrança: Quatro dispositivos externos são discutidos e encorajados em seu uso:

-         aqueles de retenção temporária como lembretes e lista de compras

-         aqueles de retenção a longo prazo como caderno de endereço

-         aqueles de planejamento diário como agenda e calendário

-         mudanças ambientais como manter coisas sempre no mesmo lugar

 

4a. sessão – Concentração: São apresentadas e discutidas as várias maneiras em que a concentração pode ser prejudicada e a possibilidade de mantê-la, como:

-         períodos de descanso

-         superação de distração externa: lugar apropriado

-         superação de distração interna: controle dos pensamentos “intrusos”

 

   5a. sessão – A prática melhora as coisas: Como fazer uso da prática repetitiva. Os itens que os membros do grupo esquecem são nomeados, distribuídos e resgatados em diferentes dias para serem praticados.

 

   6a. sessão – Lembrando-se de fazer as coisas:

    7a. sessão – Lembrando-se das informações: Isso se torna possível através das lembranças de histórias, leituras de artigos e jornais.

 

     8a. sessão – Ouvindo e expressando idéias: São testadas aqui as habilidades de audição e a capacidade de expressão.

 

     9a. sessão – Lidando com outros problemas: São compartilhadas as muitas e variadas preocupações dos participantes, os diferentes problemas de esquecimento, os problemas emocionais, familiares, financeiros ou legais.

 

     10a. sessão – Continuando a usar as técnicas de terapia de memória: Aqui são procuradas maneiras de ajudar os participantes a manterem a aplicação das estratégias aprendidas durante o treinamento.

 

Ao término da oficina os testes cognitivos e o questionário de percepção de memória são reaplicados em sessões individuais.

Os pacientes recebem então uma devolutiva sobre a percepção dos coordenadores do grupo sobre os fatores que interferem no seu desempenho e são reavaliados quanto à internalização dos mecanismos propostos à vida diária destes indivíduos.

 

RESULTADOS

Constata-se a diminuição da ansiedade (trabalhado no treinamento com relaxamento e dinâmicas grupais), o aumento da autoconfiança para memorização a partir das dinâmicas e um aumento da velocidade de processamento das informações e da memória operacional, trabalhados intensamente com dinâmicas e auxiliares de memória.

Os benefícios do atendimento grupal podem ser observados na interação dos idosos, na troca de experiências, nas trocas interpessoais e no autoconhecimento, potencializando desta maneira os benefícios da estimulação cognitiva.

 

CONCLUSÃO

Os Grupos de Oficina de Memória são importantes instrumentos terapêuticos e preventivos na terceira idade, pois trabalham a estimulação cognitiva.

Sabe-se que os problemas de memória podem afetar de maneira prejudicial o cotidiano do idoso, pelo desuso e estigma relacionado ao processo de envelhecimento

Com o estímulo da memória, é possível reabilitar as capacidades mentais abandonadas, levantar recursos disponíveis mais negligenciados, atenuar a ansiedade do idoso e fazer aparecer novas atitudes diante de atividades no cotidiano

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