Buscarás o "knowware": Onde e como apostar as fichas

Onde está o conhecimento? Como fazer para não apenas se apropriar dele mas ser capaz de produzi-lo? São as duas questões essenciais, o "onde" e o "como" da aposta de alto risco em que se transformou a conquista de um bom emprego.

Já temos o hardware e o software, a infra-estrutura e os códigos, regras, protocolos e sistemas para operar essa infra-estrutura. No entanto o próprio desenvolvimento da tecnologia de hardware e software bateu de frente, nos anos mais recentes, com limites.

Exemplo concreto: as máquinas Xerox tornaram-se tão complexas que os técnicos não têm mais como dar assistência técnica apenas com base no manual de instruções. É que as máquinas desenvolveram "personalidades" (à la "2001 - Uma Odisséia no Espaço"). Elas se comportam reagindo aos usos que lhes são dados.

Os técnicos chegam a dar nomes às máquinas. A assistência técnica precisa entender esses usos, e também a comunidade que trabalha com a máquina precisa tornar-se mais humana para que a tecnologia faça sentido.

Impõe-se o "knowware": a prática, a combinação de conhecimento e experiência que se adquire por meios tácitos, pelo convívio com os usuários das máquinas e com a própria comunidade de técnicos que prestam assistência.

A Xerox passou a patrocinar cafés da manhã para os técnicos papearem. O "knowware", no caso, não é um código nem uma ferramenta, mas uma relação social em que o uso da ferramenta ganha sentido, vira compartilhamento de conhecimento.

Ao mesmo tempo, "knowware" é um trocadilho com "nowhere", "lugar nenhum". Onde está esse conhecimento? Está disperso em hábitos e cultura, muito além (espacial e temporalmente) da leitura exaustiva dos manuais de fábrica. É como diz a inscrição que rodeia a torre na praça do relógio da USP (Universidade de São Paulo): "No mundo da cultura, o centro está em toda parte".

Esse conhecimento perde vida se virar apenas um acervo congelado. E apenas a promoção de conexões, em todas as direções e sentidos, como na multiplicação de sinapses cerebrais, torna esse organismo vivo inteligente. Como notou com extrema lucidez o sociólogo Manuel Castells no artigo do Mais! de 1º de abril, é a capacidade de fazer conexões que diferencia o humano do animal, não o número de genes em si mesmo.

Essas conexões tornaram-se uma condição necessária (embora nem sempre suficiente) de "empregabilidade" (mais uma palavrinha feia inventada pelos economistas). Quem conseguir, individual ou corporativamente, criar e ajudar a criar essas conexões será parte de um organismo mais inteligente e com mais capacidade de sobrevivência.

Mas onde está o "knowware"? O Brasil já dispõe dessa "coisa" que é uma mistura de infra-estrutura, informação e práticas coletivas de produção de conhecimento?

Infelizmente, ainda não. Aliás, no mundo inteiro a corrida pela competitividade passa hoje pela construção dessas redes inteligentes. Sem elas, o desemprego tende apenas a aumentar, radicalizado por novas formas de exclusão, como a tão falada "exclusão digital".

GILSON SCHWARTZ/Agência FOLHA http://www.armazemdedados.rio.rj.gov.br/arquivos/177_10%20mandament...

No início de 2001 procurávamos uma idéia para o desenvolvimento de uma Vigilância em Doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT), quando li este artigo na FOLHA.

A noção de um "knowware na saúde" era perfeita para a nova vigilância em DANT. Procuramos o Gilson Schwartz, chegamos a fazer uma parceria, mas depois descobrimos que nem ele sabia como fazer aquilo que escrevera. A idéia de organizar uma rede pela internet foi então abandonada, pois nem a ATTI/SMS e PMSP/Governo Eletrônico sabiam como elaborar esta organização em rede que imaginávamos participativa e interativa, para a vigilância em DANT.

Com o desenvolvimento da internet, dos softwares e hardwares, a ampliação das conexões, inclusive nas unidades de saúde, o obstáculo tecnológico foi rapidamente superado.

Hoje, está na moda a idéia das redes sociais e temos disponíveis várias ferramentas para esta forma de organização.

O "NING" nos parece um software bem adequado para o desenvolvimento da rede, pelo seu fácil entendimento (parece uma mistura de Orkut, Blog, Twitter) e por isso resolvemos experimentá-lo como ferramenta.

Como está no texto do Gilson, a tecnologia hardware e software não é suficiente para o desenvolvimento de qualquer estrutura coletiva.

É mais importante o envolvimento das pessoas, e o "knowware/nowhere", mais do que um trocadilho de tecnologia/utopia, talvez seja o maior desafio a ser alcançado para a construção de um novo paradigma organizacional, rompendo com a lógica sistêmica e normativa.

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