CONFERÊNCIA SÃO PAULO SUA - ZONA LESTE (2)

Lutas do passado, presente e futuro

Passado de muitas lutas

A Zona Leste sempre foi uma região de lutas, de resistência e de reivindicações de seu povo. Desde a resistência indígena contra a escravização e colonização até as lutas operárias contra a ditadura militar e tantas outras, comunitárias, regionais e temáticas para solução de problemas específicos. Importante lembrar daquela luta que exigiu muita mobilização popular, no final dos anos 1970, para colocar porteiras e sinalizadores ao lado das estações de trens e evitar acidentes fatais que cresceram com a chegada em massa dos migrantes. A participação de agentes pastorais da Igreja Católica, se alinhando com a Teologia da Libertação, foi fundamental. Depois, a luta por acesso à terra e moradia foi uma constante, para resistir aos decretos de despejos e para a construção de habitações populares. Antes disso, a insatisfação popular com a ditadura pelo aumento do custo de vida e principalmente dos aluguéis, o que levou os últimos governos militares a implantarem os grandes conjuntos habitacionais da COHAB, que abrigaram muita gente daqui e atraíram famílias de trabalhadores também de outras regiões. Podemos mencionar ainda as lutas comunitárias por creches e postos de saúde, além de melhorias nos loteamentos como acesso à luz, água e pavimentação. Outra importante batalha popular foi a que se organizou contra a construção de um Cadeião na Avenida Águia de Haia, no bairro do A. E. Carvalho. O então governador Covas não aceitava dialogar e mandou dar início à obra, o que levou o povo, numa noite, a destruir o canteiro de obras. O governo teve de desistir do Cadeião e anunciou a construção da primeira Fatec e Etec na Zona Leste. Mais recentemente, lembramos da conquista pelos campus da USP e Unifesp, que demandaram ações como a que resultou na Fatec, que exigiram mobilização, pressão e negociação política envolvendo lideranças comunitárias e parlamentares para as suas conquistas. Na área da saúde pública, as lutas populares foram e continuam fortes, com reivindicações desde a construção e melhoria do atendimento nos postos e UBS’s, até a construção de novos hospitais, como os da Cidade Tiradentes, Itaim e Ermelino Matarazzo, que exigiram muita mobilização. Destacamos que há anos se aponta a necessidade de outro hospital na Vila Matilde, sem esquecer do grave problema da escassez de médicos em toda a região e principalmente nos bairros de localização mais extrema. Mencionamos também as mobilizações e atos antes da Copa de 2014 para que não houvesse despejos e desapropriações de comunidades nas imediações do Estádio e das vias de acesso. Essas batalhas trouxeram consigo também as marcas da luta pela Democracia e o aprimoramento de conhecimentos e experiências de seus atores e acoplaram exigências de participação popular na formulação, implantação e gestão das políticas públicas. Por exemplo, a luta do Movimento Popular de Saúde trouxe a gestão tripartite nos equipamentos de serviços da área. A luta por moradia formatou a exigência dos mutirões por autogestão, além dos conselhos nas outras áreas.

Por um futuro melhor
Hoje, a participação popular é exigência fundamental que perpassa os vários governos, mas é muito mais enfatizada nos governos populares. As comunidades no interior dos bairros foram conquistando as melhorias básicas e, na sequência, foram surgindo demandas por mais qualidade de vida, como as de lazer (parques, praças, áreas esportivas e de lazer), segurança (policiamento e melhor iluminação) e de serviços (wifi, telecentros, ciclovias e ecopontos). Evidente que a chegada de serviços como os de metrô e monotrilho e novas e melhores estações de trens da CPTM, além da implantação dos CEUs e o novo estádio do Corinthians também trouxeram mudanças urbanísticas e induziram a chegada de novos serviços nos seus entornos. Mas trouxeram também problemas como a especulação imobiliária. Essas mudanças e melhorias convivem ainda com problemas crônicos, como as enchentes e inundações de vários bairros, principalmente aqueles derivados de ocupações de margens de córregos e rios, sendo que os mais emblemáticos são aqueles dentro da Área de Preservação da Várzea do Rio Tietê. O aprimoramento da legislação para conectar o aparato legal à cidade real é fundamental. Além de novas obras e serviços de grande (mais metrô e corredores de ônibus), médio (CEUs, bibliotecas, LED na iluminação) e pequeno portes (ecopontos, Wi-Fi, trânsito, dentre outros) serão muito importantes. Assim como centros de atendimento à população da terceira idade, pois envelhecer na periferia desta cidade não é fácil!

Descentralizar é preciso

Um tema que não é somente relativo à zona leste e sim de toda a cidade, mas que não podemos deixar de tratar é o da necessidade de descentralizar a gestão municipal. Numa metrópole do tamanho de São Paulo é irracional administrar de forma excessivamente centralizada, como é hoje. Os bairros com subprefeituras são maiores em território e população que muitas das maiores cidades brasileiras. E cada qual tem suas próprias características e necessidades. São Miguel, por exemplo, tem cerca de 500 mil habitantes e ali ressalta o problema das enchentes e regularização fundiária. O Brás recebe milhares de turistas que vêm às compras em suas lojas e confecções e reclama de investimentos para atender melhor a esse público. Com aproximadamente 40 000 moradias, Cidade Tiradentes é considerado o maior conjunto habitacional da América Latina. Distante 40 km do centro, o bairro carece de melhoria de transporte público e empregos. E reivindica também formas de enfrentar a expansão desenfreada de suas vilas em direção à Poá e Ferraz. A descentralização e o planejamento por subprefeituras, além da necessária participação popular na construção de ideias e soluções apontam o caminho para dar conta do atendimento das demandas específicas dessa gigantesca região.

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