Quatro remédios levam a maioria dos idosos aos hospitais nos EUA

NEW YORK _ Uma impressionante pesquisa divulgada nos meios médicos pelo prestigioso New England Journal of Medicine comprova que existem apenas quatro drogas responsáveis pelo maior número de internações de idosos e visitas às unidades de emergência hospitalar nos EUA. As quatro classes de medicamentos são os diluentes do sangue (como a varfarina), os antiplaquetários (como aspirina), os remédios contra diabetes (como injeções de insulina) e hipogliclemiantes orais (comprimidos que baixam a glicemia no sangue).

Apenas quatro medicamentos ou grupos de medicamentos _ utilizados isoladamente ou em conjunto _ foram responsáveis por dois terços das internações hospitalares de emergência entre os americanos idosos, de acordo com o relatório. No topo da lista estava a varfarina, também conhecido como Coumadin, um sangue mais fino. Foi responsável por 33% das visitas aos centros de emergência. Injeções de insulina foram os próximos da lista, sendo responsável por 14% dos atendimentos de emergência.

Clopidogrel, aspirina e outros medicamentos antiplaquetários que ajudam a evitar a coagulação do sangue estavam envolvidos em 13% dos atendimentos de emergência. E logo atrás deles estavam medicamentos para diabetes tomados por via oral, chamado hipoglicemiantes orais, que foram implicados em 11% das hospitalizações.

Todas essas drogas são comumente prescritas para adultos idosos, e podem ser difíceis de usar corretamente. Um problema que eles compartilham é um índice terapêutico estreito, ou seja, a linha tênue entre uma dose eficaz e uma perigosa. O forte impacto que eles tiveram em internações entre os idosos, porém, não era esperado, segundo o Dr. Dan Budnitz, um dos autores do estudo e diretor do Programa de Segurança de Medicamentos do Centro de Controle e Prevenção de Doenças.

_ Nós não estávamos tão surpreso com as drogas em particular que estavam envolvidos _ disse Dr. Budnitz. _ Mas ficamos surpresos quantas das internações de emergência foram devido a um número tão relativamente pequeno dessas drogas.

Todos os anos, cerca de 100 mil pessoas nos EUA mais de 65 anos são levados para hospitais de reacções adversas aos medicamentos. Cerca de dois terços acabam no hospital por causa de overdoses acidentais, ou porque a quantidade de medicação prescrita teve um efeito mais poderoso do que o pretendido.

Como os americanos vivem mais e tomam mais medicamentos _ 40% das pessoas acima de 65 anos tomam medicamentos matinais _ hospitalizações por overdoses acidentais e efeitos colaterais adversos são susceptíveis de aumentar, segundo especialistas.

No estudo, Dr. Budnitz e sua equipe vasculharam dados coletados 2007-2009 em 58 hospitais nos EUA. Os hospitais estavam todos participando em um projeto de vigilância, executado pelo CDC, a fim de observar para eventos adversos a medicamentos.

Um denominador comum entre as drogas no topo da lista dos remédios perigosos é que eles podem ser difíceis de usar. Alguns exigem o teste de sangue para ajustar suas doses, e mesmo uma dose pequena pode ter um efeito poderoso. O nível de açúcar no sangue pode ser notoriamente complicado de controlar para pessoas com diabetes. Tomar uma dose um pouco maior de insulina do que aquela necessária pode deixar uma pessoa em estado de choque. Varfarina, entretanto, é o exemplo clássico de uma droga com margem estreita entre doses terapêuticas e tóxicas, requerendo monitoramento de sangue regular, e pode interagir com muitos outros medicamentos e alimentos.

_ São medicamentos que são críticas _ diz o dr Budnitz _ mas porque causam tantos males, é importante que eles são gerenciados de forma adequada.

Uma coisa que se destacou nos dados, para os pesquisadores, foi que nenhum dos quatro medicamentos identificados como culpados freqüentes das internações costumam ser tipicamente entre as drogas rotuladas como de "alto risco" para idosos. Os medicamentos que que são geralmente designados de alto risco ou "potencialmente inapropriados" são comumente usados em doses controladas como o Benadryl, o Demerol e os outros poderosos analgésicos narcóticos. Estes medicamentos dosados representaram apenas cerca de 8% por cento das internações de emergência entre os idosos.

O Dr. Budnitz disse que as novas descobertas devem dar oportunidade para reduzir o número de internações de emergência em adultos idosos. A ideia é concentrar em melhorar a segurança deste pequeno grupo de anticoagulantes e medicamentos para diabetes, ao invés de tentar impedir o uso de drogas tipicamente considerado como de risco para esse grupo de pacientes idosos.

_ Acho que o maior ensinamento desta pesquisa para os pacientes idosos é que eles devem alertar os seus médicos que estão usando esses medicamentos. Eles devem trabalhar com seus médicos e farmácias para garantir que eles recebam os testes apropriados e estejam tomando doses adequadas.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/saude/quatro-remedios-levam-maioria-dos-ido... 

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Comentário de Evaldo em 4 dezembro 2011 às 13:15

Li este texto na imprensa leiga pelo FaceBook.

Resolvi divulgar no grupo, porque sei que temos muitos farmacêuticos e técnicos de farmácia e acho que é um assunto que interessa não apenas à assistência farmacêutica, mas a toda a rede.

Comentário de Silvia Regina Ansaldi da Silva em 7 dezembro 2011 às 19:03

Olá Evaldo!

Realmente muito interessante o artigo. E também muito preocupante, pois dispensamos esses medicamentos em nossas unidades, que recebem muitos idosos. Daí a importância de termos uma dispensação de medicamentos qualificada.

Comentário de Daniela Oliveira de Melo em 7 dezembro 2011 às 19:21

É interessante notar que além do fato desses medicamentos estarem relacionados a internações hospitalares são de uso corriqueiro, na grande maioria das vezes contínuo, e interagem com vários outros medicamentos. A varfarina é considerado um dos medicamentos, senão o medicamento, mais envolvidos em interações medicamentosas graves e bem documentadas. Os resultados desse estudo são coerentes com outros estudos, incluindo minha tese de doutorado. Acredito que com o envelhecimento da população e a consequente fragilidade da condição humana faz com que problemas relacionados a medicamentos que antes aconteciam mas não tinham impacto clínico relevante ou importância epidemiológica passam a ser "descobertos". 

Comentário de Evaldo em 7 dezembro 2011 às 22:03

Olá. 

Das medicações relacionadas, só a warfarina eu evito usar na UBS em Osasco, principalmente porque não temos condições de termos um controle rigoroso da anticoagulação. Lembro-me que assisti a uma reciclagem no CREMESP e a forma de controle preconizada tornava a sua aplicação impossível de ser realizada tanto em UBS como pelos cardiologistas e angiologistas das especialidades, pois o sistema público não tem a agilidade para os exames, nem a acessibilidade às consultas como o professor que deu a reciclagem dizia. Acho que este é mais um nó que ainda não temos como desatar no SUS.

As outras medicações são de uso mais frequente, mas procuro ser mais criterioso com a população idosa. A gente precisa incorporar estas evidências, embora não seja muito fácil decidir quando estamos diante de uma situação concreta, em que o discernimento para a decisão correta não aparece de forma tão clara.

Neste ponto é que eu acho que um protocolo ajuda, mas não resolve. Estarmos atentos e abertos para incorporar novos conhecimentos torna-se mais fácil quando a gente consegue este diálogo entre todos.  

Uma informação científica, que foi publicada num jornal de credibilidade como o New England, mesmo que traduzida de forma precária pelo O Globo ajuda a gente a colocar a melhor decisão na balança. Daí a idéia de que o conhecimento nasce com a troca entre a prática, a ciência, a academia e entre os profissionais.

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